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O conglomerado Victorinox

"Escondida" nos alpes suíços, a moderna sede de 32.000 m²
da Victorinox harmoniza com a região verde e nevada.

A história da empresa helvética Victorinox é uma constante de superação de crises econômicas, inovação e resiliência, alcançados devido ao empenho de seus funcionários e de sua família na transformação de um pequeno negócio de cutelaria em uma múltipla empresa global.

O conglomerado sediado no Cantão de Schwyz hoje é composto pela antiga Wenger (agora direcionada não mais a produção de canivetes, mas malas e relógios), pelas divisões próprias da Victorinox de Canivetes, Facas, Malas, Relógios, Roupas, Perfumes, Baionetas (!), Ferramentas Multiuso, dentre outros. Também as subsidiarias da Victorinox são responsáveis pela representação de marcas de renome mundial, a exemplo da Bushnell, Cross, FranklinCovey, MagLite, Sheaffer, Caran D'Ache e Tasco. Pouco mais de 2000 funcionários prestam serviços ao conglomerado diretamente e tantos mais indiretamente, atendendo à cadeia de produção dos seus principais produtos, dos quais apenas as roupas e outros pequenos artigos não são fabricados na Suíça.

Seu crescimento é bastante peculiar e orgânico, com cada expansão para novo país, bem como abertura de novas vagas na empresa, calculados meticulosa e precisamente, justamente para manter uma reputação impecável de sua boa administração (sabe-se que há mais de 80 anos a empresa não demite um único funcionário por questões econômicas). São mais de 125 anos sendo comandada pela família Elsener, sendo que desde o ano de 2000 a empresa é dividida em duas fundações, conforme Época: "Foram criadas duas instituições, uma que mantém o controle, com 75% das ações, e outra que está voltada à conservação ambiental da região, com outros 15%. Apenas os 10% restantes estão diretamente sob o controle familiar."

Ainda conforme a edição online da Época:
"Em parte, o motivo era o temor de que a multiplicação de herdeiros (hoje são 24 na quinta geração) e a divisão de ações ameaçasse o futuro da companhia. No estatuto de fundação da controladora, porém, existem dois objetivos centrais: manter a Victorinox independente (o que indiretamente quer dizer suíça e sob o controle dos Elsener) e preservar ao máximo os empregos. A família se orgulha de, nos últimos 80 anos, não ter demitido nenhum funcionário por razões econômicas, e afirma que há 30 anos não recebe dividendos. “Todos vivemos de salário”, afirma Elsener IV, que mora perto da empresa e normalmente vai a pé ou de bicicleta para o trabalho."
Antiga sede da empresa, que permaneceu por muito tempo como
lar do famoso SAK (Swiss Army Knife).
Inspirado em uma obra de Henry Ford, as três últimas gerações da família lidaram com os bancos muito cautelosamente, evitando a todo custo recorrer à capitalização por meio de abertura na bolsa de valores, bem como por qualquer necessidade de ordem administrativa. Por isso dispondo de certa folga, com um grande "pé de meia" em contas bancárias, que poderá ser utilizado em emergências como o que se deu durante o fatídico ano de 2001, decorrido os atentados terroristas contra o WTC, em Nova York. As vendas despencaram naquele momento desastrosos 30% em um curtíssimo intervalo de tempo e se não fossem os estoques baixos (devido à demanda crescente da época) e o endividamento inexistente, a empresa teria um sério problema.

Karl Elsener IV compreendeu que evitar a todo custo o sistema bancário moderno era necessário, de acordo com os preceitos de seu pai: “Ford dizia que os bancos te dão um guarda-chuva quando está sol e o retiram assim que começa a chover. Nunca esqueci disso.”

Não só a desbancarização da empresa garantiu sua sobrevivência. Ainda que o bem mais valioso da Victorinox seja seu seu expertise e a própria invenção do SAK, foi a diversificação implantada desde o ano de 1989 que permitiu que a mesma não patinasse em seu desafio histórico advindo pela proibição de comercialização da ferramenta em free-shops e lojas de souvenires nos aeroportos, canais que escoavam importante parcela de sua produção. Com a exploração de segmentos importantes e famosos no país (como a relojoaria e instrumentos de viagem e precisão), a empresa se concentrou na ampliação de seu mercado, buscando ao mesmo tempo prospectar oportunidades em nações emergentes, como Brasil, Rússia, China e noutros com sedes já tradicionais, a exemplo do Japão e Coréia do Sul.

A lâmina de aço sueco (como todas as outras empregadas pela
empresa) número 500.000.000 pronta para ser montada em
sua estrutura por Karl Elsener IV
Contando com um crescimento, portanto, realizado de forma firme e compassada, alcançaram a produção colossal de 120.000 facas e canivetes por dia (dado do segundo semestre de 2016), com modelos de SAK que são destinados desde a jogadores de golfe, médicos, jardineiros, lenhadores, bombeiros e militares suíços e alemães até os mais clássicos, que possuem uma imensidão de diferenciais em suas ferramentas, designe estrutural e estampas. Concursos de designe foram inaugurados e um processo de criação altamente colaborativo foi desenvolvido junto aos fãs da marca. No passado mês de julho de 2017, por coincidência, fora produzido o 500.000.000º canivete (isso mesmo: quinhentos milhões de canivetes), marca histórica somente possível por todo este histórico estudado.

Devido à incorporação da Wenger e o fim da produção de seus canivetes, a Victorinox também passou a oferecer uma nova linha própria do SAK trazendo muitas das ferramentas patenteadas da Wenger numa sinergia com suas próprias criações. Assim, a nova linha Evolution trouxe vários aprimoramentos incríveis de Délemont, como as talas anatômicas, trava de lâmina, tesoura com mola diferenciada, bússola, lupa estendida, chave adaptável para porcas, travas nas chaves de fenda, enfim, todo um conjunto do que havia de melhor na Wenger que foi incorporado no tradicional canivete Victorinox, criando um novo modelo completo ao estilo SwissChamp.

Ainda que hoje seja muito diversificada, a empresa deve seu
surgimento ao tradicional Canivete do Soldado Suíço.
Os produtos da Victorinox passaram a utilizar desde a década de 1950 diversos materiais que continuaram a dar o tom de inovação desta empresa, que procurou desde cedo as mais diferenciadas formas de prolongar a vida útil de seus produtos: além do aço inox (quando as ligas eram apenas de aço comum), das talas em PVC (quando se usava ainda madeira e chifres de animais), também passaram a desenvolver compostos com Alox (uma cromação sobre o alumínio que o torna singular em textura e durabilidade), o Carbono (empregado em lâminas e relógios da marca), o Aço de Damasco (com técnicas de têmpera vindos da Índia e Pérsia), o Celidor, compostos de madeira e fibras vegetais, dentre outros.

Essa história de pioneirismo está gravada na sede, nos produtos e no imaginário dos funcionários e consumidores da Victorinox.

Outras fontes consultadas:

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Karl Elsener (1860-1918) Ibach é uma pequena cidade Suíça famosa por suas paisagens encantadoras, pelas suas casas de arquitetura teutônica muito particular e pela presença forte de um exército de cuteleiros que fizeram fama internacional a partir da ideia originalíssima de um perspicaz profissional chamado Karl Elsener. Nascido na década de 1860, Elsener completou seu aprendizado de cutelaria na cidade de Zug, especialmente se dedicando ao fabrico de facas. Era um trabalho modesto numa época em que a Suíça apenas possuía uma história de resistência à sua incorporação pelas nações vizinhas da Itália, Prússia e França, cuja economia era muito pouco sofisticada e não apresentava os altos índices de desenvolvimento hoje alcançados. Em geral, o país era considerado no alvorecer do século XX como um dos mais pobres da Europa. Pela tamanho diminuto do seu território, pela ausência de riquezas minerais e/ou vegetais, pelo clima em algumas partes rigoroso durante quase todo o ano, re