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O preço justo de um canivete


Descendente do lendário SAK de Karl Elsener, o Spartan

Decidi escrever um post sobre este assunto (ainda que tenha muitos outros interessantes sobre a estrutura e a história do Canivete Suíço) porque o preço de um canivete suíço pode afigurar para alguns consumidores um valor altamente proibitivo perante a dimensão da ferramenta. Há o que podemos designar uma espécie de "bloqueio" do interessado pelo preço geralmente encontrado no mercado.

O SAK (Swiss Army Knife) agrega, grosso modo, não apenas designe e usabilidade, mas materiais certificados de altíssima qualidade e composição complexa. Para além disso, há inúmeros empregos, inventividade, garantia vitalícia, ótimo atendimento pós-venda, enfim, um conjunto de adicionais que são compradas junto com o objeto que o tornam medianamente mais caro que os falsificados ou de marcas não-suíças.

Evidentemente que apenas um preço não diz nada sobre o produto comprado, uma vez que num mundo onde mais valem palavras do que fatos o preço é algo na maioria das vezes abstrato. O que conta no caso específico do canivete suíço (seja um Wenger não mais fabricado ou um Victorinox) é, principalmente, a experiência acumulada e o renome de uma empresa seriamente comprometida com seu consumidor. Aliás, tão comprometida que se tornou uma das poucas empresas que concede garantia vitalícia, incluindo-se num grupo seleto de marcas que concede para seus produtos uma assistência de gerações, contrastando-se com as que desde há décadas programam seus produtos para terem vida curta. Nomeadamente, a Victorinox se preocupa a longo prazo com a produção de suas ferramentas: suas inovações são submetidas a testes exaustivos internamente e nunca são lançadas assim que criadas, a fim de garantir uma experiência durável para seus consumidores.

Apesar do que falamos anteriormente, reflitamos sobre o que um preço justo garante para o consumidor. Antes de tudo, garante que o produto não seja mais caro do que vale nem mais barato do que realmente custou para ser confeccionado, garantindo um equilíbrio sadio e honesto em um mundo de opostos tão extremos (pirataria que incentiva a escravidão de operários industriais e opulência que engana os consumidores com brilhos falsos). Além disso, um preço justo engloba diversos fatores que estão embutidos no produto final: ideia, aperfeiçoamento, materiais empregados, equipe dedicada, atendimento, etc., o que no caso da Victorinox observamos ser insuperável em eficiência.

Funcionalidade, sofisticação e qualidade de um SAK.

O que garante para a fábrica e a marca? Um crescimento orgânico e eficaz, com zelo pelo futuro da empresa. A Victorinox, por exemplo, há mais de 80 anos não demite um único funcionário por questões financeiras; mesmo durante sua última grande crise, em 2001, ela realocou funcionários em outras empresas do grupo e locais de Ibach para que não os demitisse. Além disso, mais de 2000 empregados, contando os da Wenger que tiveram seus empregos salvos depois do difícil ano de 2001, são remunerados proporcionalmente ao trabalho que empregam na confecção dos objetos de cutelaria. As contratações são realizadas a um ritmo lento e cauteloso, justamente para que indivíduos ou famílias não se vejam frustradas por uma demissão. A marca, empregando um preço justo, também atrai seus consumidores a se fidelizarem em razão de sua honestidade, oferecendo produtos de altíssima qualidade a um valor razoavelmente acessível aos interessados.

Aos que nos afirmam que o preço de um canivete é excessivo, portanto, respondemos sempre com outra pergunta: mostre-nos um celular ou um computador que você esteja utilizando e que conte mais de 20 anos de idade? Certamente que qualquer aparelho razoável custará pelo menos três vezes o preço do modelo mais vendido da Victorinox, o Spartan, e não durará nem ao menos 5 anos. E só sabe, definitivamente, o valor de um canivete quem o utiliza quotidianamente. Isso é tão patente que a "receita" é passada não apenas pelos usuários, como pelos próprios funcionários da empresa, que recomendam a consumidores céticos que experimentem passar uma semana com um canivete no bolso e depois esquecê-lo por um dia em casa (no que certamente sentirão a falta da ferramenta).

Claro que para que uma empresa possa oferecer produtos que se ajustem aos bolsos e anseios de cada consumidor, ela deve possuir um portfólio coerente de produtos. No caso da Victorinox, suas mais de 100 variações de canivetes (algumas diferenças são muito sutis, como ferramentas a mais ou a cor das talas ou revestimentos cromáticos do aço) se encaixam nas exigências de cada consumidor sem onerar o preço. Só para se ter uma ideia, o modelo Spartan, campeão de vendas da empresa, possui um custo muito acessível para qualquer brasileiro de classe média baixa, principalmente perante a fama que o tornou o mais famoso canivete da história.

Diante do que expomos, sobra a certeza de que o quesito custo X benefício de um canivete suíço é mais que atendido com o que encontramos no mercado e só mesmo a ignorância sobre o assunto produz discussões sobre o preço supostamente caro dos apetrechos.

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Karl Elsener (1860-1918) Ibach é uma pequena cidade Suíça famosa por suas paisagens encantadoras, pelas suas casas de arquitetura teutônica muito particular e pela presença forte de um exército de cuteleiros que fizeram fama internacional a partir da ideia originalíssima de um perspicaz profissional chamado Karl Elsener. Nascido na década de 1860, Elsener completou seu aprendizado de cutelaria na cidade de Zug, especialmente se dedicando ao fabrico de facas. Era um trabalho modesto numa época em que a Suíça apenas possuía uma história de resistência à sua incorporação pelas nações vizinhas da Itália, Prússia e França, cuja economia era muito pouco sofisticada e não apresentava os altos índices de desenvolvimento hoje alcançados. Em geral, o país era considerado no alvorecer do século XX como um dos mais pobres da Europa. Pela tamanho diminuto do seu território, pela ausência de riquezas minerais e/ou vegetais, pelo clima em algumas partes rigoroso durante quase todo o ano, re